Você não pode escolher, você não pode dizer quando, como, ou quem, e é simplesmente impossível dizer que você tem um tipo certo, mas acredite, muito provavelmente vai encontrar alguém eventualmente, que parecerá que você já estava esperando. Talvez não seja aquele cabelo loiro e curto, mas sim um cabelo preto e bagunçado, não te fará rir descontroladamente com um jeito escancarado de ser, mas vai te fazer sorrir sem querer com um "oi" e não uma piada, ou se o caso estiver mais perdido, sem nenhuma palavra.
Vai ser simples, e você vai saber antes de conhecer, você vai ver de longe com vontade de ver mais de perto, vai dizer um "oi" exagerado e tremido, vai sentir ciúmes sem ser teu, e vai cair no conto do vigário das trocas de olhares, no qual ficará dividida entre a ilusão da esperança, e o mero acaso de estar no mesmo lugar, no mesmo campo de visão. Talvez ele tenha um olho pequeno e meio puxado, e nem seja aquele verde que você sempre se orgulhou em ter e achar lindo, mas seja um preto tão escuro que é impossível não sentir que eles sempre tem algo a dizer, mesmo sem poder o fazer. Talvez você se encante por coisas quase insignificantes, como o jeito de andar, de mexer no cabelo, de rir timidamente para não chamar a atenção, de fazer caretas, do jeito como parece se importar com cada pessoa que fala, com um jeitinho educado de conversar, como abaixa o olhar pra falar, mas sempre levanta quando você diz algo, ou até mesmo aquele all star branco que se parece muito com o seu. Ou você vai se apaixonar por coisas maiores, como algum talento especial, como um jeito diferente de te olhar de longe, ou como te abraça como se já se conhecessem a anos, ou quem sabe, aquela piscada em vez do cumprimento normal que te faz corar.
Ele vai ser diferente dos outros, porque você vai sentir vergonha de estar ao lado, ao mesmo tempo que vai falar todas as coisas absurdas que pensa só porque você quer ser você mesma, ou apenas porque gosta do som da risada quando fala coisas idiotas, ou só porque ele te faz se sentir tão leve, que não da muito tempo de pensar em ser outro alguém que não seja você. E é aí que está, encontrar alguém que te faça sentir vontade de ser tudo o que você é só pra você, tudo o que o mundo ainda não mereceu conhecer, revelar aquelas coisas que você deixa guardado no fundinho, de contar todos os medos sem se importar em parecer fraca, ao mesmo tempo que irá querer ser forte por dois, porque por algum motivo, vai querer saber quais as fraquezas e os medos daquela pessoa também. Tenho quase certeza que com o tempo, a aparência será tão insignificante, que você saberá cada jeitinho especial que te fez ficar assim, sentindo como se aquela papo de dividir a vida com alguém começasse a ter sentido.
E então aquele papo de "eu estou sozinho porque quero", perderá o sentido, porque na verdade você sempre quis estar sozinho, porque nunca havia sentido tanta vontade de estar com uma pessoa, a ponto de não se importar tanto assim com o seu tempo quando não está com ela. E então você ficara encurralado entre a negação eterna pra você mesma, e o medo extremo de ser uma afirmativa. Será diferente de tudo o que já sentiu, porque ao contrário das outras vezes, você não acha que alguém errou, muito pelo contrário, acha que foi bom do jeitinho torto que aconteceu, e porque você tem certeza que faria tudo de novo se tivesse a oportunidade.
Não, você não encontrará alguém igual. Talvez encontre alguém melhor, se bem que não acho que existem pessoas melhores quando elas são boas pra você, só circunstâncias melhores, ventos mais favoráveis, situações mais fáceis, e um momento mais certeiro. Talvez você ainda encontre essa pessoa pelas estradas por aí, e o melhor de tudo é saber que jamais sentirá raiva, insegurança, receio, só lembranças. A música ainda lembrará o dia que ele lhe mostrou, a letra guardada num cantinho de uma caixa ainda vai te fazer lembrar dos desenhos que ele fazia, e certos lugares ainda deixarão a sensação de falta que faz aquele abraço, ou o primeiro, que você nunca esqueceu porque suas pernas ficaram bambas, seu coração acelerou, e você nem tem certeza do que disse, porque ele fazia isso com você, não ter certezas, e isso era bom....
É irônico o fato de você ter que se acostumar com algo que parecia tão certo, e foi tão errado, ou o fato de você dizer a verdade, mas querer que fosse mentira, ou o fato de que é estranho definir esse "quase sentimento", que fica dividido entre querer estar perto e deixar ir de uma vez, entre saber que não sente mais o mesmo, mas tão pouco sente menos, é estranho ter a certeza de que não sorri mais toda vez que lembra, isso na raras vezes em que lembra, mas sente um aperto estranho que talvez seja saudade, ou apenas vontade de gritar. Se a "consequência do destino é o amor", a consequência da falta dele é a conformação, é a volta para sua caixa, é o conforto que a calmaria da vida sem ter alguém diferente pra você, em meio a tantos iguais.
Por isso que é besteira você querer escolher, é mentira que você escolheu estar só. Quando você gosta, não te importas o o ônus porque o bônus fala mais alto, e quando você não gosta, você está tão bem quanto, o pior de tudo, é estar entre isso, é gostar e não ser recíproco, porque meio termo não se completa, não da garantia, não dá história, porque amar sozinho só funciona se for a si mesmo. Ele será o acerto no erro, mas vai ser um erro bom de ter cometido!